Será possível perder gordura e ganhar músculo ao mesmo tempo? A recomposição corporal, explicada pela nossa equipa.
Quantos de nós têm, por vezes, vontade de atirar a balança pela janela fora???
“Ando, afincadamente, a ir ao ginásio, tenho tanto cuidado com a alimentação e o, maldito, número na balança não muda, simplesmente não muda!!!!! Só me dá vontade de mandar isto tudo às urtigas, fundir-me com o sofá e com uma embalagem de Oreos… Porque, afinal de contas, de que me vale tanto cuidado?”.
Quem já remoeu um pensamento parecido vezes e vezes sem conta?
A verdade é que pode mesmo ser frustrante, muito frustrante! Principalmente se estivermos a analisar as coisas de forma simplista.
Simplista porquê?
Porque avaliar o resultado do investimento numa alimentação cuidada e num estilo de vida ativo apenas pela evolução do peso não é correto. O peso corporal é um pobre indicador da nossa Composição Corporal. Assim, o problema de usar uma balança como único método de aferir a evolução, é que a maioria das balanças não diferencia a perda de massa gorda da perda de massa muscular, o que é um importante indicador de saúde. Uma massa gorda muito elevada tem sido relacionada com uma série de problemas de saúde e pode aumentar o risco de desenvolver condições crónicas como diabetes, várias formas de cancro e doenças cardíacas. Já um rácio saudável de massa gorda vs. massa muscular pode melhorar a saúde e diminuir o risco dos problemas acima mencionados.
Quem já ouviu as expressões “Falso gordo e falso magro”?
Um “falso gordo” tem um Índice de Massa Corporal (IMC) acima do que é recomendado, mas uma percentagem de Gordura Corporal ou massa gorda adequada, um “falso magro”, pelo contrário, tem um IMC dentro do intervalo recomendado mas a massa gorda superior à recomendação saudável. Esta é a essência da Composição Corporal!
O que é, então, a Composição Corporal?
É a “fotografia em números” do nosso corpo e divide-se, de forma genérica, em duas categorias, massa gorda e massa isenta de gordura. A primeira diz respeito a todos os tecidos “gordos” no nosso corpo, a segunda inclui tudo o resto, músculos, órgãos vitais, ossos e fluídos.
Se a massa gorda e a massa isenta de gordura se alterarem em simultâneo, podemos não ver alterações no peso corporal, ou seja, se a massa isenta de gordura aumentar na mesma quantidade em que a massa gorda diminuir, o peso corporal permanecerá igual. Olhar só para o peso não é suficiente para perceber estas alterações, logo conhecer e avaliar a nossa Composição Corporal é muito mais útil.
A maioria das pessoas que tentam perder peso ambicionam, não só, um corpo esbelto, como também tonificado. Contudo, a maioria dos programas de perda de peso foca-se, apenas, na perda de massa gorda sem ter em consideração a manutenção da massa muscular e menos ainda o seu aumento.
É aqui que entra o conceito de Recomposição Corporal, uma abordagem que dá enfâse, não só, à importância de perder massa gorda, como à de ganhar massa muscular.
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A metodologia de Recomposição Corporal pode resultar numa perda de peso muito mais lenta, ou mesmo inexistente, ou seja, o peso pode manter-se igual devido ao ganho, simultâneo, de massa muscular. Contrariamente a uma dieta convencional, a Recomposição Corporal traduz-se num estilo de vida no qual a abordagem relativamente à alimentação e ao fitness dão origem a mudanças saudáveis no rácio corporal de massa gorda vs. massa muscular. Portanto, um cenário típico na Recomposição Corporal é a manutenção do peso corporal enquanto se perde gordura e, em simultâneo, se ganha músculo.
O motivo pelo qual esta estratégia gera alguma confusão deve-se ao facto de que pretende alcançar, ao mesmo tempo, dois objetivos para os quais são usadas duas abordagens opostas, ou seja, para perder massa gorda precisamos de criar um défice calórico (consumir menos calorias do que aquelas que se gastam) e para ganhar massa muscular precisamos de um excedente calórico (consumir mais calorias do que aquelas que se gastam).
Na verdade, muitas pessoas consideram a Recomposição Corporal um mito e, tantas outras, não a reconhecem como uma metodologia útil e válida, mas existem testemunhos e casos de sucesso. De referir que, a magnitude do seu resultado depende muito das características individuais, sejam genéticas, de composição corporal, de hábitos alimentares e de exercício físico.
Se todos conseguíssemos fazê-lo seria fantástico, porque o rácio massa gorda vs. massa muscular é o melhor indicador do estado de saúde no geral, além do que o aumento da massa muscular promove o aumento do Índice Metabólico Basal (ou Taxa Metabólica em Repouso), o que significa que o corpo gasta mais calorias em repouso. Contudo, não existe um protocolo definido, um “Recomposição Corporal 101”, já que as características individuais de cada pessoa e o grau do compromisso que estejam dispostas a assumir vão condicionar uma grande parte do processo. Por exemplo, um bodybuilder que queira ganhar mais músculo e perder gordura terá necessidades alimentares e de exercício diferentes de uma pessoa com excesso de peso que queira perder gordura enquanto tonifica o corpo.
Recomposição Corporal – Step by step
Com métodos convencionais de perda de peso, a tendência é cortar, drasticamente, no consumo calórico e aumentar o exercício cardiovascular com o objetivo de gastar mais energia. Embora isto resulte em perda de peso, o mais provável é perder-se, não só massa gorda, mas também massa muscular.
Assim, no que à alimentação diz respeito, as recomendações passam por uma dieta isocalórica (em que não existe nem défice nem excedente calórico), ou por uma dieta com um ligeiro défice calórico. O processo tem que ser, forçosamente, lento, já que, como mencionado anteriormente, um défice acentuado vai comprometer a integridade da massa muscular. Num estudo de 2011, com atletas de elite, conseguiu-se um ganho muscular em simultâneo com perda de gordura, ao longo de um período de 9 semanas, com um ligeiro défice calórico que pretendia uma perda de peso de 0,7%, do peso corporal, por semana. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21558571
Um aspeto vital no protocolo alimentar prende-se com o conteúdo proteico, uma dieta com valores elevados de proteína facilita a perda de gordura enquanto contribui para o crescimento muscular. Uma ingestão proteica adequada é essencial, na Recomposição Corporal, para manter um balanço positivo do nitrogénio mesmo estando em ligeiro défice calórico. Isto é o que assegura que a massa muscular tem as condições necessárias para crescer.
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São diversos os estudos que mostram uma maior eficácia na perda de massa gorda com ganhos de massa muscular e força com valores de proteína de, no mínimo, 1,4 – 1,6g/Kg de peso corporal.
O 3º pilar neste processo é o treino! O exercício cardiovascular é, de facto, importante para a perda de peso e para a saúde em geral, mas o treino de força é indispensável para alterar a composição corporal. Um exemplo de treino de força é o treino de musculação, que é recomendado para o ganho de força e massa muscular.
Vários estudos demonstraram que treino de força, 2 a 3 vezes por semana, maximiza o crescimento muscular e que a sua combinação com protocolos de treino intervalado de alta intensidade contribui para a perda de massa gorda e aumento da força e massa muscular.
Por fim, um ponto comum aos 3 pilares da Recomposição Corporal…
“Carb cycling”, sim ou não? De forma básica, trata-se de aumentar o consumo calórico, à custa dos hidratos de carbono, nos dias de treino e reduzi-lo nos dias de descanso. Também aqui a perspetiva individual é importante, para quem funciona, ótimo, é uma excelente estratégia, mas impô-lo como regra, a pessoas que não consigam fazer esta gestão, deve ser evitado.
E qual o papel dos suplementos na Recomposição Corporal?
Estudos demonstram que o consumo de fontes de proteína completas ao longo do dia é a melhor forma de ganhar massa muscular. Incluindo, na alimentação, fontes de proteína como ovos, frango, peixe, frutos secos, leguminosas e iogurte é a melhor forma de suprir as necessidades proteicas. Contudo, para quem tenha dificuldades a este nível, um suplemento proteico pode ser útil e existem estudos que mostram incrementos no ganho muscular, principalmente, quando combinado com treino de força.
Em conclusão…
Sem surpresas, chegamos à conclusão de que a chave para uma Recomposição Corporal eficaz é encontrar o equilíbrio correto entre alimentação e exercício. Contudo, e ainda que esta estratégia possa ser usada por qualquer pessoa, desde atletas de elite a quem, simplesmente, procure uma forma saudável de ficar em forma, é importante não descurar o fator motivação. Temos que ter a consciência de que o conceito de peso corporal e a obtenção de resultados rápidos são bombardeados continuamente no consciente de todos nós, o que nos torna reféns de duas premissas que a Recomposição Corporal rejeita terminantemente. Algo em que devemos trabalhar! É, extremamente, difícil para a maioria das pessoas aceitar evoluções lentas e não ver modificações acentuados no número mostrado pela balança. Por este motivo a flexibilidade da abordagem Team Transformerz é a que nos continua a fazer mais sentido, mantendo os pontos chave da Recomposição Corporal, mas adaptá-los a cada pessoa.
Referências:
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4859313/
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- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4736063/
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- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8379514
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- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29658408
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28919842
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24015719